Os cristais dos elementos em Final Fantasy III

Final Fantasy III (FFIII) foi o jogo mais ambicioso da franquia quando saiu no início de 1990. Sua criação ficou a cargo da mesma equipe dos antecessores: Hironobu Sakaguchi (direção), Nobuo Uematsu (música) e Yoshitaka Amano (aspectos visuais). A fim de pôr a cereja no bolo, a Square apostou nas convenções do RPG, corrigiu erros e mergulhou mais fundo nas opções narrativas. A história gira em torno dos cristais dos elementos, que se tornaram símbolos da franquia. Decerto, só não é desnecessário falar das alusões à mitologia porque é justamente esse o propósito do Projeto Ítaca. A seguir, veremos quais são os temas que surgem no terceiro título de Final Fantasy.

A luz contra as trevas

Sob a benção dos cristais dos elementos, a civilização de continentes flutuantes viveu seu auge. Mas, ao abusarem dos poderes da luz, seus povos provocaram uma catástrofe. Tais poderes fugiram do controle, inundaram o solo e quebraram o equilíbrio natural com as trevas. A Nuvem das Sombras emergiu com o propósito de lançar o mundo de volta no nada. Diante da tragédia iminente, os cristais escolheram guerreiros dos planos opostos. Então, os Guerreiros da Luz e das Trevas afastaram a Nuvem das Sombras e restauraram a ordem.

Mil anos depois, a ameaça retorna ao mundo, que se ergueu nas ruínas de tempos idos. Tremores abalam as regiões, os cristais se apagam e monstros das trevas surgem em toda a parte. Sob a terra, usando o poder que lhe resta, o Cristal do Ar dá esperança aos Guerreiros da Luz. Sem dúvida, é a esperança que vai salvar o mundo. Os escolhidos são quatro órfãos da remota vila de Ur.

FFIII conta a história desses jovens, que se veem no centro de uma guerra do bem contra o mal. Escolhidos pelos cristais dos elementos, eles saem numa jornada para salvar o mundo. A princípio indefinidos, ganham nomes, gênero e motivações próprias. O protagonista é o alegre Luneth, que viaja junto de seu amigo Arc com o propósito de achar os cristais. Posteriormente, unem-se a eles o cavaleiro Ingus e Refia, filha de um ferreiro. Luneth fica surpreso com o fato de que ambos são órfãos, como ele e Arc, e pensa se há algum significado por trás disso.

Elementos para o futuro de Final Fantasy

Prometam que vão banir as trevas e restaurar a paz do mundo”.

Sacerdotisa do Templo da Água.

Sólido para os games da época, o argumento de FFIII se resume no conflito tradicional entre luz e trevas. Além disso, junto de temas já presentes na franquia, o jogo trouxe elementos que definiriam seu futuro, como o continente flutuante e a civilização avançada. Depois do chocobo e do nome “Cid”, FFIII marcou a estreia dos moogle, seres pequenos, peludos e rosas que viraram mascotes de Final Fantasy. E, assim como ocorre no antecessor, há personagens secundários que ajudam os heróis e enriquecem a narrativa, com subtramas.

No jogo original dava para escolher a classe do personagem e fazê-la evoluir de forma lógica. Essa opção sumiu em FFII, mas voltou em FFIII com número maior de profissões, vinte e três no total. Além das tradicionais, como Guerreiro e Mago Branco/Negro, surgiram outras novas, como Invocador (Summoner). Esta, como o nome sugere, introduziu a função de chamar seres lendários como Ifrit ou Shiva. Assim, as profissões ganharam habilidades próprias. O Invocador, por exemplo, tem o comando exclusivo “Invocar”. A novidade seria recorrente nos próximos títulos, como é o caso de FFIX. Além disso, cada profissão tinha acessórios específicos.

Contudo, há uma opinião geral de que esse FFIII não revolucionou a franquia. Seu grande feito, na verdade, foi combinar uma série de inovações com o melhor dos predecessores, pavimentando a estrada de tijolinhos amarelos para os títulos seguintes.

Os cristais dos elementos e os monstros lendários

FFIII é repleto de alusões à antiguidade e aos mitos. Em primeiro lugar, sua trama gira em torno dos cristais dos elementos, como a do jogo original. Conforme sabemos, para muitas culturas o cristal é uma substância sagrada, símbolo da adivinhação, da sabedoria e dos poderes misteriosos. Não por acaso, ele se tornou o símbolo da franquia.

Além disso, há os lugares por onde passam os escolhidos, como a vila de Ur, cujo nome vem de uma cidade-estado da Suméria, na antiga Mesopotâmia. Já Canaã, a terra de Cid, era uma área do Antigo Oriente Próximo (o moderno Oriente Médio), com menção na Bíblia.

Seguindo a tradição dos jogos de RPG, e da própria franquia, há legiões de monstros em FFIII. Alguns não passam de animais, outros são humanos, a exemplo dos cavaleiros e ninjas, ou mutantes, como os seres exclusivos da mitologia de Final Fantasy. A fauna grotesca é muito diversa e inclui até mesmo dinossauros. Além destes, os heróis se deparam com seres lendários como grifos, duendes, sereias e dragões, de vários tipos.

No entanto, vale destacar a presença massiva de monstros gregos, que surgem em bando: titãs, Medusa, Cérbero, Equidna, Caríbdis e Cila. Estes três últimos são, respectivamente, a mãe de todos os monstros da mitologia grega e as criaturas marinhas da Odisseia.

Em certo ponto da história, o engenheiro de aeronaves Cid sofre a maldição de um Djinn, espírito ou criatura sobrenatural da mitologia árabe. Outro monstro memorável é a Garuda, ave lendária das crenças hindu e budista, que no jogo ataca com lampejos turno após turno.

Leia o próximo artigo desta série em A luz e as trevas em Final Fantasy IV.

Referências

Bestiary (Final Fantasy III) em Final Fantasy Wiki.

Dicionário de mitologia grega e romana (2011), de Pierre Grimal.

Final Fantasy: La leyenda de los cristales (2013), de Pablo Taboada.

Dicionário de símbolos (2020), de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

Final Fantasy Ultimania Archive Volume 1 (2018).

Os monstros da mitologia grega na série de games Final Fantasy, de Lúcio Reis Filho.

Como citar este artigo? (ABNT)

REIS FILHO, L. Os cristais dos elementos em Final Fantasy III, Projeto Ítaca. Disponível em: https://projetoitaca.com.br/os-cristais-dos-elementos-em-final-fantasy-iii/. Acesso em: 24/04/2024.

Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.
Lucio Reis Filho

Lucio Reis Filho

Lúcio Reis Filho é Ph.D. em Comunicação (Cinema e Audiovisual), escritor e cineasta especializado nas interseções entre Cinema, História e Literatura, com foco nos gêneros do horror e da ficção científica. Historiador com especialização em Estudos Clássicos pela Universidade de Brasília, em parceria com a Cátedra Unesco Archai (Unb/Unesco), é Coordenador do Projeto Ítaca. Seus interesses acadêmicos e de pesquisa são essencialmente interdisciplinares; abrangem Cinema, Artes Visuais, História, Literatura Comparada e Estudos da Mídia. Escreve periodicamente resenhas de livros, filmes e jogos para diversas publicações.

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